O Futuro da Pesquisa em Saúde Mental: O papel reinventado dos players tradicionais

Postado em 24/10/2025
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A inclusão obrigatória dos Fatores de Riscos Psicossociais Relacionados ao Trabalho (FRPRT) nas Normas Regulamentadoras (NR-1 e NR-17) não apenas atraiu novos atores ao cenário da saúde mental ocupacional, como também forçou uma profunda e necessária reinvenção dos players tradicionais. O futuro da pesquisa para estes atores será marcado pela transição do foco reativo (após o adoecimento) para o diagnóstico preditivo e a intervenção sistêmica.

 

A seguir, a importância do tema e as novas posturas de cada área:

 

1. Área da Saúde e Segurança no Trabalho

  • Importância do Tema: Para a SST, a saúde mental deixou de ser uma “questão de RH” para se tornar um risco ocupacional central no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO/PGR). O adoecimento mental (principalmente burnout e transtornos de ansiedade) é hoje um dos principais causadores de afastamentos, impactando diretamente o FAP e os indicadores de acidentes.
  • Nova Postura e Pesquisa: O foco move-se da segurança física para a segurança psicológica. A pesquisa se concentrará na integração de dados. SST precisará pesquisar metodologias que cruzem indicadores tradicionais (absenteísmo, rotatividade, acidentes) com dados de avaliação psicossocial para estabelecer o nexo causal/concausal. Os profissionais de SST, antes focados em EPIs e extintores, agora pesquisarão a eficácia de medidas de controle de risco não-físico (ex: mudanças na jornada de trabalho, melhoria da comunicação).

 

2. Ergonomia:

  • Importância do Tema: A Ergonomia, guiada pela NR-17, sempre tratou da adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas do trabalhador. A saúde mental é a manifestação mais aguda da falha na adaptação dos fatores organizacionais (ritmo, organização, jornada). O tema é crucial para a Ergonomia provar seu papel na gestão de riscos não-físicos.
  • Nova Postura e Pesquisa: A pesquisa na Ergonomia terá um foco majoritário na Ergonomia Cognitiva e Organizacional. O profissional deixa de ser o “ajustador de cadeiras” para ser o analista da carga mental e do desenho do trabalho. Pesquisas detalharão o impacto de novas tecnologias, da sobrecarga informacional (infoxication) e da falta de autonomia na carga mental. O foco será na Análise Ergonômica do Trabalho (AET) que detalhe as falhas na gestão e organização que levam à sobrecarga emocional e cognitiva.

 

3. Psicologia Organizacional e do Trabalho

  • Importância do Tema: Tradicionalmente, o foco estava no clima, satisfação e desenvolvimento individual (treinamentos). Com as NRs, a Psicologia Organizacional é colocada no centro da avaliação e gestão de risco. O seu conhecimento sobre dinâmicas de grupo, liderança e motivação torna-se o instrumento-chave para o cumprimento legal do PGR.
  • Nova Postura e Pesquisa: A pesquisa abandona a avaliação da satisfação subjetiva e foca na mensuração objetiva dos FRPRT. Os psicólogos pesquisarão a validação e a aplicação em massa de inventários de risco psicossocial (como o COPSOQ, que mede demandas, controle e suporte) e o desenvolvimento de intervenções sistêmicas que atuem diretamente na liderança e na organização do trabalho. O foco passa a ser menos em “felicidade” e mais na criação de ambientes de trabalho psicologicamente seguros, investigando a eficácia de políticas antiassédio e de canais de comunicação transparente.

 

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Médico Especialista em Otorrinolaringologia. Mentor Intelectual do software SIGOWEB, aplicação na web destinada à Gestão da SST, eSocial, GRO/PGR, Gestão do FAP e atual Diretor de Inovações.

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