O Futuro da Pesquisa em Saúde Mental Ocupacional: Da percepção à evidência legal

Postado em 24/10/2025
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O futuro das pesquisas em saúde mental ocupacional no Brasil está sendo moldado, de forma definitiva, pelas exigências das Normas Regulamentadoras (NRs) NR-1 (Gerenciamento de Riscos Ocupacionais – GRO) e NR-17 (Ergonomia).
O ponto de viragem é a inclusão explícita e obrigatória dos Fatores de Riscos Psicossociais Relacionados ao Trabalho (FRPRT) dentro do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), conforme a recente atualização da NR-1.

 

 1. Tendências de Pesquisa Impulsionadas pela Legislação

As novas exigências movem as pesquisas de um foco puramente acadêmico para uma aplicabilidade prática e legal imediata, direcionando o futuro dos estudos para quatro áreas principais: validação de instrumentos, correlação causa-efeito, modelagem de risco preditivo e avaliação de eficácia de intervenções.
a) Ascensão de Instrumentos Quantitativos e Qualitativos Integrados:
A pesquisa deixará de depender apenas de indicadores de afastamento (custosos e reativos) e passará a focar em inventários psicossociais validados (como o COPSOQ) para identificar a fonte do perigo no trabalho (Ex: sobrecarga, assédio). O futuro envolverá a validação cruzada de instrumentos psicossociais (identificação do risco) e escalas clínicas de rastreio (identificação do efeito, como DASS-21 e SRQ-20), fornecendo às empresas ferramentas de diagnóstico robustas e cientificamente defensáveis. Isso será complementado por metodologias qualitativas, como a observação sistemática, para traduzir números em contextos práticos de trabalho.
b) Foco no Nexo Causal e na Responsabilidade Organizacional:
A inclusão dos FRPRT no PGR obriga as empresas a gerenciarem a origem do risco. As pesquisas futuras se concentrarão em provar o nexo entre fatores organizacionais (como estilo de liderança e cultura) e o adoecimento mental. Além disso, haverá um aumento nos estudos sobre os riscos emergentes do trabalho moderno, como o impacto psicossocial dos modelos híbridos, remotos e da digitalização excessiva.

 

 2. Divagações sobre as Exigências e o Futuro da Gestão

A legislação brasileira está a forçar uma mudança de paradigma na gestão de pessoas e SST:
a) Da “Lavagem de Cuidado” (Carewashing) à Evidência Documentada:
O futuro da pesquisa será criar métricas transparentes para combater a mera fachada de cuidado. Como a NR-1 exige a documentação das ações no PGR e o monitoramento via PDCA (Planejar, Fazer, Checar, Agir), o sucesso de qualquer intervenção de bem-estar (como ginástica ou mindfulness) terá que ser cientificamente provado pela redução dos riscos no ambiente de trabalho e pela melhora nos indicadores de saúde mental. Intervenções sem base em dados tendem a perder relevância.
b) A Integração do PGR, PCMSO e ASO Psicológico:
A NR-1 reforça a integração do PGR (riscos) com o PCMSO (saúde do trabalhador). As pesquisas terão que fornecer bases para a criação de um ASO (Atestado de Saúde Ocupacional) com um olhar mais apurado para os fatores psicossociais. O foco não será o diagnóstico individual, mas determinar se os FRPRT identificados no PGR estão a impactar a saúde mental do trabalhador, exigindo medidas de mitigação no ambiente de trabalho.
c) Crescimento da Ergonomia Cognitiva e Organizacional:
Com a ênfase nos FRPRT, a Ergonomia passa a focar intensamente na carga mental de trabalho, na clareza de papel, na autonomia e na gestão de tempo. A pesquisa deixará de focar apenas no corpo (LER/DORT) para se concentrar igualmente na mente (esgotamento/ burnout) como reflexo direto da organização e concepção do trabalho.

 

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Médico Especialista em Otorrinolaringologia. Mentor Intelectual do software SIGOWEB, aplicação na web destinada à Gestão da SST, eSocial, GRO/PGR, Gestão do FAP e atual Diretor de Inovações.

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