O admirável Mundo Novo da postergação de riscos psicossociais: um ano de “Vantagens” incalculáveis

Postado em 28/07/2025
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Com o adiamento das Avaliações de Riscos Psicossociais para maio de 2026, o entusiasmo no tema diminuiu bastante. A percepção geral é: “se não é obrigatório agora, não precisa ser feito”.
Consultando a NR 1 no site do MTE, vemos duas versões. A que entra em vigor após 25 de maio de 2026 menciona explicitamente a gestão dos riscos psicossociais. Isso reforça a ideia de que, por enquanto, a obrigatoriedade não existe, incentivando um “deixa pra lá”.
Essa mudança de ritmo sugere que muitas empresas estão em modo de espera. Contudo, ignorar as doenças psicossociais não as faz sumir. Pelo contrário, dados do SmartLab (https://smartlabbr.org/) mostram um aumento contínuo na concessão de benefícios previdenciários (B31 e B91) ligados a essas condições.
Essa postergação, reflexo de um medo atávico de lidar com um problema complexo, é um “tiro no pé” para quem deveria buscar soluções. A ideia de “avaliações só para o ano que vem” traz um alívio momentâneo, mas esconde os custos crescentes de funcionários afastados, dias perdidos e impactos na produtividade.
O SmartLab aponta os setores com mais concessões de benefícios: Transportadoras, Supermercados, Construtoras, Administração Pública, Hospitais e Bancos.
Para a Administração Pública e Bancos, a dinâmica pode ser diferente. Na primeira, a ausência de um “dono do cofre” (somos todos nós), e nos bancos, a facilidade de repassar custos, podem mascarar o problema.
Para os demais setores, porém, essa política de “esconder a cabeça na areia” tem repercussões negativas significativas. A saúde dos colaboradores está diretamente ligada à eficiência operacional, tornando a inação uma escolha cara a curto prazo.
Se necessita muita perspicácia para entender o que a postergação da avaliação e mitigação dos riscos identificados pode trazer de grande vantagem para esses setores. Seria o expressivo ganho de 1 ano para adotar medidas que atendam aos seus interesses?

 

Além do Adiamento: As Consequências da Inação

As avaliações são apenas a ponta do iceberg das mitigações necessárias – elas apontam os riscos e definem os planos de ação. A postergação não só causou esse mal saudado, mas também empurrou para frente ações que poderiam reduzir problemas. É surpreendente a limitação em não enxergar que essa decisão impede a redução de questões graves.
Além do aspecto econômico, há a insensibilidade e paralisia que o medo gera ao ignorar o lado dos afetados. Sintomas depressivos e ansiosos – os mais prevalentes segundo o SmartLab – causam dor e sofrimento, que muitas vezes se estendem às famílias e amigos. Não podemos esquecer o impacto humano.
É preciso uma mente verdadeiramente brilhante, uma perspicácia quase sobrenatural, para enxergar as imensas vantagens de simplesmente ignorar os riscos identificados por, digamos, um ano inteiro. Afinal, quem precisa de avaliação e mitigação imediatas quando se pode ter o inestimável benefício de ganhar um ano para “atender aos interesses” dos setores em questão?
É pura, inquestionável inteligência. Meus parabéns a quem teve essa ideia luminosa!

 

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Médico Especialista em Otorrinolaringologia. Mentor Intelectual do software SIGOWEB, aplicação na web destinada à Gestão da SST, eSocial, GRO/PGR, Gestão do FAP e atual Diretor de Inovações.

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