Módulo SIGOWEB: Análise e seleção de questionários para Avaliação de Riscos Psicossociais

Postado em 23/08/2025
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Este estudo serviu como uma fase preparatória para o desenvolvimento do Módulo de Avaliação de Riscos Psicossociais do SIGOWEB. A necessidade de identificar o melhor questionário disponível para a ferramenta levou à realização de uma pesquisa criteriosa no Google Scholar e no PubMed.
Dentre as diversas opções analisadas, optou-se por focar nos questionários PROART, HSE-IT e COPSOQ. Essa seleção se justifica pela abordagem de triangulação de dados, que permite uma avaliação completa e multifacetada dos riscos psicossociais, cobrindo perspectivas que vão da percepção individual do trabalhador até a gestão organizacional.
O próximo passo consistiu em analisar a fundo cada uma dessas ferramentas para selecionar a mais adequada. PROART, HSE-IT e COPSOQ representam filosofias metodológicas distintas, e a escolha ideal depende fundamentalmente dos objetivos e necessidades específicas da empresa que irá utilizá-las.
 
 

Análise das Metodologias

  1. PROART (Protocolo de Avaliação dos Riscos Psicossociais no Trabalho)

O PROART foi desenvolvido no Brasil, com base na Psicodinâmica do Trabalho. Sua abordagem é mais qualitativa e aprofundada, focando na subjetividade do trabalhador e na relação entre o trabalho prescrito (o que deveria ser feito) e o trabalho real (o que realmente se faz).
  • Vantagens:
    • Profundidade: Vai além dos números, buscando entender o sofrimento real do trabalhador.
    • Contextualização: Ideal para analisar contextos específicos e complexos, como no setor público ou em trabalhos que envolvem alto nível de sofrimento emocional (saúde, segurança).
    • Foco na Gestão: Ajuda a identificar a relação entre o estilo de gestão e o bem-estar dos colaboradores.
  • Desvantagens:
    • Escalabilidade: É menos adequado para empresas grandes, pois exige uma análise mais detalhada e, muitas vezes, qualitativa, que pode ser demorada e cara.
    • Subjetividade: Por ser mais focado na experiência individual, a padronização dos resultados pode ser mais difícil, o que complica a criação de um plano de ação abrangente e comparativo.
  • Melhor aplicação: Ideal para empresas menores, que buscam um diagnóstico detalhado e personalizado, ou para organizações que já identificaram problemas graves e querem aprofundar a análise em um grupo específico de trabalhadores.
 
  1. HSE-IT (Health and Safety Executive – Indicator Tool)

O HSE-IT, criado no Reino Unido, é um modelo focado em sete “padrões de gerenciamento” que, se bem administrados, reduzem o risco de estresse. É uma ferramenta objetiva, quantitativa e bastante direta.
  • Vantagens:
    • Objetividade e Padronização: Os resultados são fáceis de quantificar e comparar entre diferentes setores ou empresas.
    • Foco Gerencial: Alinhado com a gestão de riscos, ajuda a empresa a entender onde agir para melhorar o ambiente de trabalho de forma prática.
    • Simplicidade: A aplicação e a interpretação são mais diretas, o que facilita a comunicação com gestores e equipes.
  • Desvantagens:
    • Visão Limitada: Por ser focado nos sete padrões, pode não capturar nuances e problemas específicos que não se encaixam nas categorias pré-definidas.
    • Superficialidade: Oferece um “diagnóstico de rastreamento”, mas não aprofunda as causas dos problemas, o que pode exigir ferramentas complementares.
  • Melhor aplicação: Ótimo para empresas de qualquer porte que precisam de uma avaliação rápida, objetiva e que sirva como um ponto de partida para o plano de ação no PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos).

 

  1. COPSOQ (Copenhagen Psychosocial Questionnaire)

O COPSOQ, de origem dinamarquesa, é uma das metodologias mais abrangentes e cientificamente validadas do mundo. Ele é construído em torno de domínios e dimensões que cobrem praticamente todos os aspectos do trabalho.
  • Vantagens:
    • Abrangência: Sua ampla gama de domínios e dimensões permite uma análise completa e detalhada de múltiplos fatores de risco.
    • Base Científica: É uma ferramenta validada e usada em nível global, o que confere grande credibilidade aos resultados.
    • Escalabilidade: As versões do questionário (curta, média e completa) permitem que ele seja usado em empresas de qualquer tamanho, com diferentes níveis de profundidade.
  • Desvantagens:
    • Complexidade: A riqueza de informações exige profissionais capacitados para a correta interpretação e para a tradução dos resultados em ações.
    • Adaptação Cultural: Embora existam versões validadas para o Brasil, é importante garantir que a aplicação e a análise considerem as especificidades da cultura local.
  • Melhor aplicação: A mais versátil, aplicável a empresas de todos os portes. É a escolha ideal para organizações que buscam uma avaliação completa, robusta e que sirva como base para a gestão contínua dos riscos psicossociais.

 

Qual a melhor para o Brasil?

No meu entendimento, a metodologia COPSOQ oferece os melhores resultados para o contexto brasileiro.
Idêntica conclusão é apresentada por Carlotto e cols (1) em artigo publicado pela ISMA-BR, e apresentado em Congresso por ela promovido em2018. O artigo apresenta uma revisão efetuada para investigar características metodológicas dos instrumentos de avaliação de riscos psicossociais no trabalho. Foram coletados 2048 artigos, e através da exclusão de artigos chegou-se a 12 artigos para a revisão.
Entre outros aspectos a pesquisa constatou que as medidas subjetivas, como questionários de autorrelato, são as mais usadas por serem fáceis e de baixo custo. O questionário Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ) é citado como o instrumento mais completo para subsidiar ações de saúde ocupacional.
Enquanto o PROART oferece uma profundidade valiosa para casos específicos, e o HSE-IT é excelente para um rastreamento rápido e objetivo, o COPSOQ se destaca por sua abrangência e adaptabilidade. Ele consegue capturar a complexidade do ambiente psicossocial no trabalho, fornecendo dados detalhados que não se limitam a um único aspecto.
Além disso, a estrutura do COPSOQ se alinha de forma muito eficaz com a exigência da NR-1, que demanda a descrição de perigos, a avaliação de riscos e a proposição de medidas de prevenção. A interpretação por tercis (semáforo) facilita a inclusão dos dados no Inventário de Riscos do PGR, tornando a ferramenta não apenas um instrumento de diagnóstico, mas também de gestão e conformidade legal.

 

  1. Congresso ISMA-BR de 2018: “Características Metodológicas de Avaliação de Riscos Psicossociais no Trabalho” – Carloto, PA, Cruz, RM, Guiland, R e Dalagasperina, P. Em https://www.ismabrasil.com.br/trabalho/69. Acessado em 24/08/2025.

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Médico Especialista em Otorrinolaringologia. Mentor Intelectual do software SIGOWEB, aplicação na web destinada à Gestão da SST, eSocial, GRO/PGR, Gestão do FAP e atual Diretor de Inovações.

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