O Futuro da Pesquisa em Saúde Mental Ocupacional: A aderência de novos interlocutores

Postado em 24/10/2025
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O futuro das pesquisas em saúde mental ocupacional transcende o campo tradicional de Segurança e Saúde no Trabalho (SST) e ganha uma dimensão estratégica e de compliance. A obrigatoriedade de gerenciar os Fatores de Riscos Psicossociais (FRPRT) pela NR-1 e NR-17 transformou o tema de uma questão de saúde para uma questão de governança, risco e custo.
Isso atrai uma série de novos players ao debate e à demanda por pesquisa, cada um com seus interesses específicos:

 

Empresas de Compliance e Auditoria:

O interesse principal é a Gestão de Risco Legal e Ético. Com a saúde mental sendo um risco ocupacional auditável (exigido pela NR-1 e normas antiassédio), essas empresas precisam de pesquisas para fornecer metodologias robustas para auditar o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) e o nexo causal, garantindo que a organização demonstre conformidade e combata o carewashing (fachada de cuidado).

 

Seguradoras (Saúde e Previdência):

O interesse reside na Gestão de Sinistralidade e Custo. O aumento alarmante de afastamentos por transtornos mentais eleva diretamente os custos dos planos de saúde e impacta o Fator Acidentário de Prevenção (FAP). A pesquisa é crucial para modelar o risco atuarial, identificar grupos de alto risco e subsidiar programas preventivos que comprovem a redução da sinistralidade.

 

Fornecedores de Canais de Denúncia:

O interesse é na Conformidade e Inteligência em Tempo Real. Assédio e má gestão são FRPRT críticos. O foco é posicionar o canal de denúncia como uma ferramenta essencial para monitorar riscos psicossociais (exigência da NR-1) e compliance, fornecendo dados imediatos sobre a cultura tóxica que a empresa precisa mitigar.

 

Empresas de Software e Tecnologia (HR Techs):

O interesse é na Automatização e Escalabilidade. Com a obrigatoriedade do PGR, a demanda é por soluções que automatizem a aplicação de questionários (como o COPSOQ), integrem dados de absenteísmo e rotatividade. A pesquisa lhes interessa para desenvolver algoritmos de risco psicossocial e garantir que seus softwares estejam alinhados com a conformidade das NRs.

 

Investidores ESG e Fundos de Índice:

O interesse é na Valorização e Reputação de Longo Prazo. O fator “S” (Social) do ESG inclui o bem-estar do capital humano. O risco psicossocial pode depreciar o valor da empresa. O foco é usar pesquisas validadas para criar métricas de saúde mental corporativa, atestando a sustentabilidade social e mitigando o risco de litígios.

 

Grandes Escritórios de Advocacia:

O interesse está na Jurisprudência e Determinação de Nexo. O crescente número de processos por danos morais e assédio exige bases científicas sólidas. O foco da pesquisa é ajudar a estabelecer o nexo causal/concausal entre as condições de trabalho e o adoecimento, subsidiando decisões e a criação de jurisprudência sobre a responsabilidade organizacional.

 

Em suma, o futuro das pesquisas será multidisciplinar, interligado e impulsionado pelo risco. As organizações buscarão pesquisas não apenas para “fazer o bem”, mas para provar que estão em conformidade, reduzir custos e proteger sua reputação perante stakeholders. O foco migra da intervenção isolada para a inteligência estratégica na gestão de riscos psicossociais.

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Médico Especialista em Otorrinolaringologia. Mentor Intelectual do software SIGOWEB, aplicação na web destinada à Gestão da SST, eSocial, GRO/PGR, Gestão do FAP e atual Diretor de Inovações.

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