No vasto campo de discussões sobre riscos psicossociais, surge uma questão crucial: a Avaliação Ergonômica Preliminar (AEP) é uma ferramenta adequada para avaliá-los? A resposta, em minha opinião, é um enfático não.
A AEP, conforme preconizada pela NR 17, concentra-se na identificação de condições no ambiente de trabalho que podem levar a desconforto, lesões ou doenças ocupacionais, considerando aspectos físicos, cognitivos e emocionais. Seu objetivo é projetar ambientes e sistemas que minimizem riscos de lesões, fadiga, estresse e erros. Minimizar não é sinônimo de avaliar…
Os principais pontos de avaliação da AEP incluem:
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Condições ambientais
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Posturas
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Movimentação
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Organização do trabalho
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Interação homem-máquina/equipamentos e ferramentas/interfaces (computadores, teclados).
Embora a AEP busque minimizar a fadiga e o estresse, ela falha em abordar os principais fatores de risco psicossociais, tais como:
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Carga de trabalho excessiva ou insuficiente
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Falta de controle sobre o trabalho
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Comunicação inadequada
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Falta de apoio social
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Assédio moral e sexual
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Insegurança no trabalho
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Desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal
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Violência e assédio
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Falta de reconhecimento
Esses fatores, quando negligenciados, podem levar ao desenvolvimento de doenças psicossociais graves, como síndrome de burnout, depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
É importante reconhecer a interligação entre riscos psicossociais e ergonômicos. Riscos psicossociais, como estresse e alta demanda de trabalho, podem levar a posturas inadequadas e movimentos repetitivos, aumentando os riscos ergonômicos. Por outro lado, condições ergonômicas precárias podem gerar desconforto, dor e estresse, contribuindo para os riscos psicossociais.
Mas também a exposição a ruídos elevados, vibrações e produtos químicos tóxicos pode ter um impacto significativo na saúde mental dos trabalhadores, contribuindo para o desenvolvimento de doenças psicossociais.
Diante dessa complexa interação, torna-se evidente a necessidade de uma avaliação específica para riscos psicossociais, distinta da AEP. É fundamental distinguir entre “riscos psicossociais” e “doenças psicossociais”:
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Riscos psicossociais: Condições no ambiente de trabalho com potencial para prejudicar a saúde mental.
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Doenças psicossociais: Condições de saúde mental resultantes da exposição prolongada a esses riscos.