Riscos psicossociais: ênfase desproporcional à realidade estatística

Postado em 25/01/2025
Compartilhe
A iminente inclusão dos riscos psicossociais no inventário de riscos do PGR gera grande debate sobre como avaliá-los, quais instrumentos utilizar e quem deve conduzir as avaliações. No entanto, análise dos dados de afastamentos do INSS, disponíveis no site SmartLab (https://smartlabbr.org/, seção “Segurança e saúde no trabalho” > “Perfil dos afastamentos – INSS”), revela uma disparidade entre essa preocupação e a realidade estatística.

 

Em consulta aos benefícios acidentários (B91) concedidos em 2022 (dados examinados em 24/01/2025), observa-se que 63,84% deles decorreram de causas físicas, como fraturas, traumatismos, luxações, ferimentos, amputações e queimaduras. Doenças osteomusculares representam 22,9% dos benefícios, enquanto problemas mentais e comportamentais (psicossociais) correspondem a apenas 4,88%.
A discrepância entre a ênfase dada aos riscos psicossociais e a baixa prevalência em relação a acidentes e doenças osteomusculares é notável. Esse último tem percentual aproximadamente cinco vezes maior que o dos distúrbios psicossociais.
Curiosamente, a implementação da nova NR 17, que introduziu a Avaliação Ergonômica Preliminar, não gerou a mesma mobilização que agora cercam os problemas mentais, apesar da relevância do tema.
Em artigos anteriores publicados no blog do SIGOWEB (“Por que AEPs não são muito elaboradas”, em 09/2024, https://lnkd.in/dKgnbmAR e “Avaliação ergonômica preliminar: a ignorada, relegada, desconsiderada”, em 07/2023, https://lnkd.in/d7BV4trX ), abordei a baixa adesão às AEPs. Neste último, iniciei com a seguinte frase: “Se eu fosse adepto da teoria da conspiração diria que há algo pessoal contra a Avaliação Ergonômica Preliminar (AEP). É inacreditável como uma exigência legal é tão pouco atendida como o é a AEP.”
Diante dessas estatísticas, que se repetem com pequenas variações desde 2012 (conforme dados disponíveis no SmartLab), questiono: a quem interessa essa ênfase desproporcional nos riscos psicossociais, considerando sua baixa prevalência em comparação com acidentes e doenças osteomusculares?
A vinculação das doenças psicossociais ao ambiente laboral apresenta desafios inerentes à sua natureza multicausal, abrangendo fatores profissionais, domésticos e sociais. Essa seria parte de uma explicação da baixa prevalência? Adicionalmente, o estigma associado a essas condições contribui para a subnotificação. Aí estaria outra explicação?
É inegável que as doenças mentais têm ganhado espaço no debate público, impulsionado por campanhas de conscientização, pela maior abertura em discutir o tema e pelo reconhecimento de seu impacto na qualidade de vida. Esse aumento na visibilidade pode influenciar a percepção sobre a prevalência dessas doenças, criando a impressão de que são mais comuns do que os números brutos podem indicar?
Enfim, ao não minimizar a importância das doenças mentais, se contextualiza sua incidência em relação a outras condições que também afetam a saúde dos trabalhadores.

Leia também

Médico Especialista em Otorrinolaringologia. Mentor Intelectual do software SIGOWEB, aplicação na web destinada à Gestão da SST, eSocial, GRO/PGR, Gestão do FAP e atual Diretor de Inovações.

Receba conteúdos exclusivos sobre Segurança no Trabalho e Saúde, eSocial e PGR.